A classe C deixou de ser considerada “baixa” e agora é “média” e disputa espaço na sociedade com a tradicional classe média. Ela vem ascendendo economicamente e que está disposta ao consumo. Quanto à escolaridade, percebe-se a valorização pela educação formal como garantia de melhor qualificação no mercado de trabalho. Identificar essas e outras características dessa nova classe média é agenda de diversas pesquisas atuais, como apontam, por exemplo, Souza e Lamounier, no livro “A classe média brasileira”.
Essa mesma classe média que vem movimentando a economia e para quem o governo Lula direcionou diversas medidas, ao longo de oito anos, também é a pedra no sapato do PSDB. Ainda em abril deste ano, Fernando Henrique Cardoso, no artigo “O papel da oposição”, não se conteve e apontou as falhas da campanha de José Serra em 2010. A principal delas, de acordo com o presidente de honra do PSDB, foi a falta de uma estratégia de marketing voltada para a classe C. Ele sugere que o PSDB não deve se preocupar com as camadas mais pobres do eleitorado e propõe que o “povão” seja trocado pela nova classe média.
Para Fernando Henrique, o partido já soube fazer isso em outras oportunidades, mas é como se tivesse perdido o traquejo e, assim, deixado essa considerável parcela da população brasileira na soma de votos do PT de Dilma Rousseff, que soube direcionar seu discurso à classe média. E, de fato, não há como negar que o PT consegue aproximar seu discurso da imagem que a nova classe média anseia daquele que a representará.
FHC ressaltou, ainda, que, enquanto oposição, é importante manter a interação com os cidadãos mesmo em períodos entre eleições. E destacou as redes sociais como parte importante nesse contato com o eleitor. É um momento em que o político pode se posicionar sobre determinados assuntos, fora de agenda de campanha: “não há oposição sem ‘lado’. Mais do que ser um partido, é preciso ‘tomar partido’”, enfatizou Fernando Henrique.
O ex-presidente da República deu seu recado e os dois nomes de peso do PSDB, José Serra e Aécio Neves – lembrando que ambos disputaram a indicação do partido para a eleição presidencial de 2010 – parecem estar preocupados em se firmar como oposição e, mais ainda, precisam identificar a fragilidade do discurso da legenda para a nova classe média.
Por um lado, José Serra manteve seu perfil no Twitter após as eleições de 2010, com atualizações diárias e procurando se posicionar sobre todos os acontecimentos do governo Dilma. Além disso, em 09 de maio, ele lançou seu site (www.joseserra.com.br) com a promessa de promover um espaço de discussão sobre os mais variados assuntos. No entanto, fazendo-se uma breve análise de conteúdo de suas postagens, tanto no Twitter quanto em seu site, é possível perceber que a temática parece ser uma simples extensão de sua campanha, ou seja, ainda há um certo constrangimento em abordar temas mais polêmicos e se posicionar a respeito deles.

Na outra margem, o Senador Aécio Neves fez questão de identificar-se como oposição em seu primeiro discurso no Senado Federal e prometeu fazer-se atuante. Mesmo amparado, como de praxe, no caráter conciliador da mineiridade, Aécio aproveitou para promover alguns ataques ao governo Lula e aos primeiros dias de governo Dilma, além de firmar seu nome como representante dos tucanos na oposição.

Ambos estão preocupados em encontrarem o tom certo da oposição tucana, no entanto, a nova classe média ainda não é claramente identificada nos discursos. Pode-se assistir, talvez, a uma demanda do PSDB pela reestruturação de marketing de seu discurso, como proposto por Fernando Henrique.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Fernando Henrique. O papel da oposição. Disponível em: <http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integra.asp?cd_artigo=101>
SOUZA, Amaury de. LAMOUNIER, Bolívar. A classe média brasileira. Ambições, valores e projetos de sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; Brasília, DF: CNI, 2010.